07 outubro 2014

Entendendo a Dermatite Atópica (Atopia)

 COCEIRA CRÔNICA EM CÃES E GATOS - ENTENDENDO A DERMATITE ATÓPICA

  1.     O que é dermatite atópica?

     1.  O que é dermatite atópica?

A dermatite atópica  ou atopia é uma doença alérgica, inflamatória da pele,  multifatorial, de ordem genética, que acarreta coceira crônica, constante, de intensidade variável decorrente de  alterações na barreira cutânea, e também de uma hiperreatividade (hipersensibilidade) do sistema imunológico frente a diversos alérgenos (agentes presentes no ambientes capazes de estimular o sistema imunológico, como ácaros da poeira doméstica, epitélio de insetos, bolores e fungos do ambiente, pólens de gramas, flores, árvores).

2. Alterações da barreira cutânea x dermatite atópica

A pele é maior órgão do organismo e tem como principais funções  a proteção contra agentes externos, fatores físicos, e substâncias químicas, e também a função de manter a hidratação.

Em animais com dermatite  atópica a barreira cutânea encontra-se alterada. Nestes animais há menor produção de proteínas, lipídeos e ácidos graxos, responsáveis por manter as células da pele unidas. A deficiência destas substâncias faz com que os espaços entre as células da pele aumentem, facilitando a perda de água pela, ocasionando ressecamento e facilitando a penetração de agentes externos na pele.

 Além disso, a pele dos animais atópicos produz menos substâncias capazes de controlar a população de bactérias e leveduras na pele, o que faz com que estes animais tenham frequentemente episódios de infecção bacteriana (piodermite superficial) ou fúngica (malasseziose tegumentar).
Pele de um animal saudável - células da pele unidas e pequena quantidade de bactérias e leveduras na superfície

Pele de um animal com dermatite atópica - células da pele todas separadas, grande quantidade de bactérias e leveduras na superfície



     3. Hiperreatividade cutânea x dermatite atópica

Cães com dermatite atópica, por apresentarem deficiência na barreira cutânea, se tornam mais susceptíveis a penetração de substâncias irritantes, alérgenos ( fatores que causam alergia) e microorganismos como fungos e bactérias na pele. A frequente e repetitiva exposição a estes agentes, faz com que as células do sistema imunológico presentes na pele do animal atópico, torne-se sensibilizada e hiper-reativa a eles, levando a liberação de diversas substâncias que causam coceira e inflamação a cada novo contato.

Os principais agentes externos que contribuem e perpetuam a hiper-reatividade cutânea compreendem:

a.     Aeroalérgenos: ácaros, bolores, pólens
b.     Microorganismos: bactérias e leveduras residentes da pele
c.      Irritantes cutâneos: cobertores, roupinhas de lã, soft, tricô, flanela, carpetes, tapetes, produtos de limpeza, perfumes, material de contrução, resina urticante presente nas gramas e gramíneas
d.     Alimentos: principalmente de origem alimentar (carne de frango, bovina, leite e derivados, ovo) e também de origem vegetal (soja, milho, trigo)
e.     Picada de insetos: pulgas, carrapatos, mosquitos

    4.     Quais  principais sintomas de dermatite atópica?

O principal sintoma da dermatite atópica é a coceira, normalmente de forma constante, crônica, recidivante, de intensidade variável desde leve a intensa. O comportamento de coçar pode ser evidenciado pela coçar com as patas, roçar em moveis, paredes e tapetes, lambedura ou mordiscamento das patas. A coceira é o sintoma que mais incomoda os animais, podendo estar presente mesmo quando não há lesões na pele. Os animais podem ainda apresentar lesões de pele, como vermelhidão (eritema), espessamento da pele, aumento da pigmentação com escurecimento da  pele, pápulas (bolinhas vermelhas), escoriações, alterações na oleosidade da pele e crostas amareladas. É frequente a infecção secundária por bactérias e leveduras, levando respectivamente a quadros de piodermite e malasseziose tegumentar

     5.     Quais os locais mais afetados na dermatite atópica?

    Os locais mais acometidos na dermatite atópica são: quadros de otites repetitivos,       patas principalmente as regiões interdigitais, região inguinal, região axilar, região cervical ventral, peitoral, região periocular e região perilabial e região de flexuras e dobras ( prega inguinal, flexura cranial do cotovelo)

  6.     Como o diagnóstico de dermatite atópico é estabelecido?

O diagnóstico da dermatite atópica é estabelecido através do histórico do animal associado ao quadro clínico, sendo necessário descartar outras doenças que levam a coceira como doenças parasitárias: escabiose, infeções bacteriana e fúngicas, alergia à picada de insetos e alergia alimentar. Resumindo, pode-se dizer que o diagnóstico da dermatite atópica é clínico e por exclusão de outras doenças de pele que desencadeiam coceira (prurido).

 7.  A realização de testes alérgicos é necessária?

O diagnóstico definitivo da atopia é clínico, ou seja, é baseado pelo histórico do animal e pela características das lesões, e também pela  exclusão de outras doenças que levam coceira ( descritas no tópico acima). Somente nos animais em que a diagnóstico de atopia já foi estabelecido os teste alérgicos devem ser utilizados. A realização dos testes alérgicos visa identificar os fatores ambientais que contribuem para a alergia, como intuito de diminuir a exposição a eles e com o intuito de iniciar o tratamento através do emprego de "vacinas para alergia" ( imunoterapia)

     8.     Como é feito o tratamento da dermatite atópica?

A dermatite atópica é uma doença incurável, isto significa que não é possível curá-la, o tratamento visa diminuir os sintomas clínicos e permitir uma melhor qualidade de vida com o bom controle da doença. Para o tratamento, é necessária a adoção de várias medidas terapêuticas de forma conjunta para obter maiores chances de controle da doença, como:

a.     Diminuição da exposição à aerolérgenos ambientais como: poléns, gramíneas, bolores e fungos          do ambiente, ácaros da poeira doméstica
b.     Eliminar infecções secundárias como aquelas causadas por fungo e bactérias
c.     Evitar a exposição à pulgas e carrapatos
d.     Diminuir coceira e inflamação através do uso de medicamentos
e.     Diminuir a hiperreatividade do sistema imunológico através   através de imunoterapia ( vacinas          para alergia)
e.     Hidratação da pele e recuperação da barreira cutânea

      O tratamento é individual para cada animal, o médico veterinário analisando cada caso estabelecerá uma terapia que deverá ser mantida por toda vida do animal afim de se manter a doença sob controle, com o tratamento e medicação é possível oferecer animal controle da doença e assim melhorar sua qualidade de vida

     Fonte: Dra Camila Domingues de Oliveira - CRMV/SP 19316


06 outubro 2014

SARNA DEMODÉCICA


A sarna demodécica, também conhecida como demodicidose ou sarna negra, é uma doença parasitária causada pela proliferação excessiva de ácaros do gênero  Demodex sp na pele. Este ácaro é  considerado como parte da microbiota cutânea, ou seja, todos os cães os possuem em pequena quantidade nos interior dos seus folículos pilosos, adquiridos pelo  contato com a mãe durante os primeiros dias de vida. Além do ácaro Demodex canis, que é o mais comum,  outros ácaros deste mesmo grupo como Demodex injai e Demodex de corpo curto, podem também levar ao quadro da doença. Apesar de todos os cães abrigarem este ácaro em pequenas quantidades em seus folículos pilosos, somente em alguns cães, estes ácaros se proliferam exageradamente a ponto de causar a doença sarna demodécica.

Os mecanismos responsáveis pela multiplicação excessiva do ácaro além do normal com consequente manifestação da doença, ainda não é totalmente compreendido, mas acredita-se que fatores genéticos, principalmente na demodicidose juvenil (quando manifestada em animais jovens, até 1 ano de idade) e  fatores imunológicos ( queda de resistência, imunossupressão), endoparasitismo, má nutrição, doenças sistêmicas graves, uso de medicamentos que suprimem a ação do sistema imunológico, contribuam para o desenvolvimento da doença.

A sarna demodécica, pode ser classificada, quanto a sua manifestação, como localizada: quando acomete de 4 a 6 áreas de lesões como falha de pelo, eritema (vermelhidão), descamação. Esta forma da doença é considerada como sendo benigna, pois raramente generaliza-se para outras partes do corpo e muitos cães podem apresentar cura espontânea ( sem uso de medicamentos).  Já a forma generalizada atinge proporções maiores da superfície corpórea podendo se estender por todo o corpo.

Quanto a idade de manifestação da doença, a sarna demodécica pode ser classificada como juvenil ou do adulto, juvenil quando os primeiros sintomas aparecem  até 1 ano de idade para cães de pequeno e médio porte e 1,5 ano para cães de grande porte, e como sarna demodécica do adulto, quando acomete animais na fase adulta. Em cães, que manifestam o quadro de demodicidose pela primeira vez na fase adulta, é necessário, investigar a possibilidade de outras doenças, visto que pode ocorrer em virtude de diminuição da imunidade.

As lesões que a sarna demodécica causa varia desde uma simples falha de pelo, com vermelhidão e descamação, desde lesões como pápulas, pústulas, crostas, secreção piosanguinolenta quando da infecção secundária por bactérias da pele. Com o progredir da doença a pele do animal pode ficar hiperpigmentada ( dai o nome sarna negra), espessa e com alteração da oleosidade. Alguns animais podem apresentar febre, prostração, diminuição do apetite e com aumento dos linfonodos (“ínguas”).

A sarna demodécica deve ser diferenciada de doenças que podem apresentar sintomas clínicos semelhantes como: piodermites, dermatofitose, pênfigo foliáceo, leishmaniose, adenite sebácea, seborreia  entre outras.

O diagnóstico da doença é feito através do exame parasitológico de raspado cutâneo ( raspado de pele) e suas variações, no qual se pode evidenciar a presença de grande quantidade de ácaros.

O tratamento da sarna demodécica é longo, geralmente de 4 a 8 meses, e o ideal é  que o tratamento só seja interrompido após a obtenção de dois raspados de pele negativos para o ácaro, com intervalos mensais, a fim de que se evite recidivas da doença após a suspensão do tratamento. Um das grande falhas de tratamento ou recidivas, é a interrupção precoce do tratamento, baseada somente na melhora clínica das lesões e não na negativação dos raspados de pele.


Atualmente, existem muitos medicamentos para o tratamento da sarna demodécica, e quando realizado da maneira correta, os animais respondem muito bem ao tratamento, embora, haja uma pequena parcela de cães que podem apresentar recidivas constantes, indepedentemente do tratamento empregado.

Todos os medicamentos utilizados para o tratamento da demodicidose são capazes de induzir efeitos colaterais como: vômito, diarreia, tremor, sonolência, incoordenação motora, até convulsões, por isso, é extremamente importante o acompanhamento do médico  veterinário por todo o tratamento até a obtenção da alta clínica.





DERMATITE PSICOGÊNICA FELINA

DERMATITE  PSICOGÊNICA  FELINA

A alopecia psicogênica é um distúrbio comportamental que se manifesta através do arrancamento ou lambedura  dos pelos, provocada por toalete (grooming) excessiva ou inadequada. Cuidados excessivos de toalete fora de contexto pode ser   um comportamento obsessivo-compulsivo deflagrado por ansiedade e estresse por fatores ambientais, como por exemplo:  mudança de ambiente, doença, cirurgia, mudança de rotina, mudança no convívio com outros animais e pessoas.

Como a maioria dos gatos passa grande parte do dia fazendo toalete, o proprietário pode não perceber que as falhas de pelos são auto induzidas, além disso muitos gatos também podem esconder-se para realizar o toalete excessivo ou o arrancamento dos peles. Gatos de raça pura, com comportamentos nervosos, sensíveis, ciumentos são possivelmente predispostos, mas pode ocorrer em qualquer raça, inclusive em gatos sem raça definida.

A falha de pelo ocorre quando o gato faz a toalete com agressividade suficiente para remover os pelos, mas não vigorosa suficiente para machucar a pele, que em geral se encontra íntegra, sem sinais de inflamação. A falha de pelo pode ser localizada, regional, multifocal ou generalizada e podem ocorrer em qualquer parte do corpo que o gato consiga lamber, sendo mais frequentemente observada na face interna das pernas anteriores e posteriores, região inguinal, perineal e abdômen ventral. A falha de pelos pode ter uma apresentação simétrica e bilateral. Os proprietários podem notar presença de pelos nas fezes e também pelos vomitados com frequência.

A dermatite psicogênica deve ser diferencia de doenças que causam coceira e que também podem ser auto induzidas, como: dermatite alérgica à picada de pulgas, alergia alimentar, atopia, ácaros (escabiose, queiletielose, linxacariose, demodicidose, otocariose),  ectoparasitas (pulgas, piolhos) e dermatofitose.

O diagnóstico da alopecia psicogênica é estabelecido mediante a exclusão das doenças descritas acima que podem resultar em falhas de pelo e coceira, e no histórico de um evento estressante.

O tratamento para dermatite psicogênica é realizado por meio de drogas que visam modificar o comportamento, e principalmente, na identificação e eliminação dos fatores externos estressantes que possam ter desencadeado o quadro,  e assim interromper o comportamento obsessivo-compulsivo/ansiedade, que desencadearam o quadro de alopecia auto induzida.

Em alguns animais, o tratamento pode ser interrompido após 3 a 6 meses o início do tratamento sem recidivas do quadro, em outros animais porém, o tratamento precisa sem mantido por tempo indeterminado.