A alergia alimentar é uma reação
adversa a alimento de ordem imunológica, ou seja, ela ocorre devido a uma
reação inadequada do sistema imunológico frente a um tipo de alimento e que se
manifesta através de sintomas gástricos e principalmente cutâneos.
1.
Alergia Alimentar x
Intolerância alimentar
É importante diferenciar alergia alimentar de
intolerância alimentar. A intolerância
alimentar ocorre devido a falhas na digestão/ processamento (deficiências de
enzimas) de certos alimentos pelo trato gastrointestinal e NÃO tem a participação do sistema imunológico. Já na alergia alimentar,
o sistema imunológico, passa a identificar certos alimentos como “nocivos”
passando a reagir contra eles.
Enquanto que na intolerância alimentar,
os sintomas são principalmente do trato gastrointestinal com presença de
vômitos e alteração das fezes, na alergia alimentar os sintomas são
principalmente dermatológicos, manifestando-se por coceira no corpo, lambeduras
das patas, otite, coceira em região perianal.
2.
Quais alimentos que
podem desencadear alergia alimentar?
A alergia alimentar pode ocorrer
frente a qualquer alimento, porém os alimentos de origem animal como: carne
bovina, frango, leite e derivados, ovo, peixe, assim como certas fontes de proteína
vegetal como soja, trigo, milho são os mais implicados no caso de alergia
alimentar em animais. Em animais, ainda não foi comprovada a alergia à aditivos
e corantes alimentares, e o papel de frutas, legumes, verduras ainda também não
foi bem estabelecido.
É importante, que o proprietário
entenda que a partir do momento que o animal desenvolve alergia a determinado
tipo de alimento, como por exemplo, carne bovina, seu animal vai reagir contra
qualquer tipo de alimento que tenha carne bovina na composição, seja carne in
natura, ( independentemente do tipo de corte, ou se é com ou sem gordura),
ossos bovinos naturais e artificiais, petiscos caninos ou rações que contenham
carne bovina em sua composição, e assim por diante...
3.
Meu animal sempre comeu
um determinado tipo de alimento, então ele não pode ter alergia a ele?
Este é mais um pensamento enganoso,
pois o processo que desencadeia alergia alimentar pode ser imediato (choque
anafilático, raro em animais) ou extremamente longo (meses a anos), ou seja,
para que a alergia a determinado tipo de alimento possa ocorrer é necessário
que o animal seja exposto a este alimento com uma certa regularidade,
sensibilizando assim seu sistema imunológico frente a este alimento, até que em
um determinado momento, este sistema imunológico já sensibilizado passa a não
tolerá-lo mais reagindo contra ele. Um exemplo: tem pessoas que sempre comeram
frutos do mar e nunca tiveram problema de alergia, de uma hora para outro no entanto,
podem ter uma reação alérgica grave ao comerem frutos do mar... o mesmo é
válido para o animais. O fato do animal sempre ter comido o mesmo tipo de
alimento não descarta a possibilidade dele começar a ter alergia a ele, pelo
contrário, quanto maior frequência e exposição a determinados tipos de alimento
maiores são as chances e mais graves os sintomas de alergia.
4.
Quais são as características/sintomas
da alergia alimentar?
A alergia alimentar pode ocorrer em
gatos e cães de qualquer faixa etária, desde filhotes com menos de 1 ano de
idade, a pacientes idosos com mais de 10 anos, podendo acometer animais de
qualquer raça e sexo.
A real ocorrência da alergia
alimentar é desconhecida, acredita-se que 10% dos cães alérgicos, podem ter sua
alergia decorrente de alimentos, sendo a alergia à picada de insetos e a
dermatite atópica muito mais frequentes.
O principal sintoma da alergia
alimentar é a coceira, que pode ser
localizada ou generalizada, principalmente em regiões de orelha ( quadros de
otite repetitivo), região perineal, lambedura das patas, região inguinal e
axilar, região de face periocular e
perilabial, cervical (pescoço) e flancos.
A pele pode ficar rosada / avermelhada
e podem surgir pápulas ( bolinhas vermelhas) e urticárias. Pelo se coçar
frequentemente, os animais podem começar a ter falhas de pelo, escoriações,
descamação. Com agravamento e cronicidade do quadro alérgico a pele pode
começar a escurecer (hiperpigmentação) e ficar espessa (hiperceratose e
lignificação).
Animais com alergia alimentar, devido
às alterações inflamatórias na pele decorrentes da alergia alimentar, frequentemente
apresentam episódios de infecções bacterianas (piodermite superficial) e por
leveduras (malasseziose tegumentar e otológica) de forma repetitiva. Em alguns
animais, a alergia alimentar manifesta-se somente com quadros repetitivos
destas infecções, sendo a coceira mínima ou até mesmo ausente.
5. Existem outras doenças
de pele que são semelhantes à alergia alimentar?
Os sintomas causados pela a alergia
alimentar podem ser muito semelhantes a outras doenças de pele como: piodermite
superficial, erupção medicamentosa, malasseziose tegumentar, sarnas, alergia à
picada de pulgas e principalmente a dermatite atópica, por isso, é de extrema importância
que o médico veterinário através de um histórico clínico detalhado e exames
minuciosos possa fazer distinção destas patologias. Infelizmente, a dermatite
atópica e alergia alimentar apresentam o mesmo comportamento e as mesmas características
clínicas, sendo impossível distinguí-las clinicamente, devendo sempre que
possível a alergia alimentar ser investigada antes do estabelecimento do diagnóstico
definitivo de dermatite atópica.
6.
Como é feito o
diagnóstico definitivo da alergia alimentar?
O primeiro passo para o diagnóstico
da alergia alimentar é excluir outras doenças de pele com características e comportamento
semelhantes (questão 5).
a)
Existe algum exame que
possa ser feito para diagnosticar alergia alimentar?
Atualmente, não existem testes de
alimentos como teste sorológicos ou intradérmicos que sejam confiáveis,
padronizados para o diagnóstico de alergia alimentar em cães e gatos, portanto,
estes não são recomendados atualmente para seu diagnóstico.
A única forma recomendada e
comprovada para diagnóstico de alergia alimentar pela Sociedade de Dermatologia
Veterinária Europeia, Americana e Brasileira é o
teste de restrição alimentar seguido da reexposição do alimento suspeito.
Durante este período de restrição
alimentar, o médico veterinário modifica a dieta do animal por um período de 6
a 9 semanas, no qual é avaliado o comportamento
da doença frente a mudança da alimentação. Caso a causa da alergia seja
alimentar, uma melhora dos sintomas clínicos é esperada dentro de no mínimo
30 dias, é válido ressaltar, que a melhora clínica não é imediata, ela pode
demorar até 30 dias após a modificação da dieta para ocorrer, por isso, é que
não se pode excluir a possibilidade de alergia alimentar antes de 6 semanas da
modificação do alimento.
No caso de melhora clínica dos
sintomas cutâneos com a modificação da alimentação, os alimentos suspeitos devem
ser reintroduzidos um de cada vez a intervalos de preferência quinzenais, onde
irá se observar a recidiva do quadro cutâneo frente a reexposição. O diagnóstico
de alergia alimentar só é então estabelecido de forma definitiva, quando animal
que apresentou melhora com sua retirada, volta a apresentar piora frente a sua
reintrodução, dai a importância de se introduzir um alimento de cada vez com
intervalos semanais ou quinzenais entre eles.
Muitos proprietários, no entanto,
frente a melhora clínica que o animal apresenta durante o período de restrição
ficam desencorajados a realizar a etapa de reintrodução de alimentos suspeitos
com medo de recidivas e assim, preferem manter a dieta de restrição por tempo
indeterminado.
7.
Todas as rações no mercado
ditas hipoalergênicas são realmente hipoalergênicas?
Infelizmente,
nem todas as rações comercializadas como hipoalergênicas são realmente
hipoalergênicas, o que gera muita dúvidas e engano, por isso, a mudança da
alimentação, deve ser orientada pelo médico veterinário, que poderá optar por
utilizar determinadas rações comerciais (especiais como as hidrolisadas ou formulada com novas fontes de ingredientes) ou até mesmo uma
dieta caseira para a investigação do quadro de alergia alimentar. A escolha da dieta de restrição irá se basear
no histórico de alimentação prévio do animal.
Muitas
vezes, a dificuldade para se investigar e diagnosticar o quadro de alergia
alimentar esbarra na falta de colaboração por parte dos próprios proprietários, que por hábito ou
comoção com animal, não seguem as orientações de restrição alimentar de forma correta,
o que infelizmente não permite a adequada investigação e diagnóstico da alergia alimentar.
Embora
a alergia desencadeada por alimentos seja rara comparando-a com alergia à
picada de insetos e a dermatite atópica, é válido ressaltar que a mudança dos
hábitos alimentares, podem resultar na “cura” do quadro alérgico, permitindo
assim que o animal fique livre de todo desconforto causado pela coceira e
lesões de pele, melhorando sua qualidade de vida e o livrando do uso contínuo
de medicamentos.
Fonte: Dra Camila Domingues
de Oliveira CRMV/SP 19316
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